O personagem: um homem, perdidamente apaixonado por uma mulher – um sentimento ainda secreto, imenso, paradisíaco, já transbordante de uma tal forma que não lhe era mais possível mantê-lo velado, incógnito, desconhecido daquela que o inspirara.
E assim, após confrontar-se intensamente por muito tempo contra seus medos, inseguranças e a autocensura que resistia em liberá-lo para a revelação – diante da expectativa do efeito que ela poderia causar -, afinal concedeu-se a carta de alforria para fazê-lo.
Olhou uma vez mais, cuidadosamente, para o sentimento que extravasava de seu ser e o desejo incontido de permitir-lhe mostrá-lo e, subitamente, percebeu desvanecerem-se todos os seus temores, que cederam lugar a uma inesperada leveza e à compreensão do verdadeiro significado do que trazia em seu íntimo e do que fazer com ele – não mais receios, não mais conflitos,não mais dúvidas, não mais silêncio, apenas a afirmação incondicional da verdade de seu amor e do merecimento de levá-lo a saber dele a musa que o inspirara, honrando assim a grandeza e a intensidade que alcançou.
Chegou até a sua amada, e olhando-a nos olhos com firmeza e delicadeza, disse-lhe:
– estou aqui para te revelar algo há muito escondido em meu ser, reprimido no mais recôndito de mim, e que não suporto mais, não quero mais, manter assim;
– peço-te que apenas me ouças. É vital para mim que saibas o que tenho para te dizer. Quando eu terminar, irei embora, para que possas, sozinha, refletir, elaborar no teu âmago tudo o que irás agora conhecer. Se depois de tudo, porventura ainda quiseres um dia falar-me a respeito, ouvir-te-ei com atenção e carinho;
– a partir do momento em que te conheci e apesar do pouco convívio que tivemos, enquanto tua imagem invadia e ocupava por inteiro o meu ser para não mais me deixar, aos poucos, suavemente, sem intenção, sem me dar conta, fui criando fantasias em que nos relacionávamos amorosamente, e progressivamente, o sentimento de amor por ti foi-se expandindo, intensificando, passei a nutri-lo, a cultivá-lo, até que me percebi amando-te em plenitude, e esse sentimento tomou tal vulto, que hoje já se me transborda, ele é tão belo, tão livre, tão prazeroso e realizador, que se tornou imperioso para mim expô-lo a ti, porque ele é hoje a mais rica joia do meu tesouro interior, modelada na substância de tua presença inexoravelmente incorporada às minhas células desde que meus olhos foram abençoados com a tua imagem;
– eu te amo, te idolatro, este amor é o néctar dos deuses que delicia e maravilha meu ser, é o nirvana em busca do qual tenho vivido, afinal alcançado;
– não quero pedir-te nada a não ser que saibas da existência deste amor, que faz de mim um ser em estado de deslumbramento;
– não quero, entretanto, concretizar este amor, ainda que porventura o viesses a querer, pois receio que, se tal acontecesse, toda a beleza de que se reveste, todo o prazer e realização que ele me proporciona, se esfumariam. A realidade que me rodeia me assusta, tantas estórias tristes e trágicas de amor humano concretizados de que sou sabedor, me desencorajam de experimentá-lo, pois não suportaria a dor de não ser correspondido ou de perdê-lo um dia como resultado das tramas traiçoeiras e destrutivas do ego. Então eu decidi ficar com a felicidade que sinto vivenciando este amor no santuário interior em que és minha deusa adorada;
– assim, este amor que ora te revelo – manifestação suprema de minha alma no universo – nunca se perderá, nunca se esgotará, como uma chama, eterna e infinita, alimentada pela tua figura de sílfide em mim definitivamente incorporada;
– agora, depositária que és da expressão de meu amor por ti e do êxtase com que ele me beatifica, deixo-te. Que venhas a conhecer e também maravilhar-te com este sortilégio. E ainda que nunca mais nos vejamos, nos falemos, que sequer tenhamos notícia um do outro, tu saberás que alguém te amou como ninguém mais, que tu foste a gota de orvalho que fez florescer o AMOR PERFEITO, o amor que nunca será rejeitado, triste ou desesperado, o amor que é a divinamente perfeita representação da beleza, da alegria, da paz, para todo o sempre, como eu afortunadamente bem o sei. . .
Anthony
Fonte= http://desnamorados.com/historia-de-uma-amor-perfeito/
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